sábado, 14 de novembro de 2020

Desconectando do mainstream

Cá estamos... de volta ao mundo dos blogs.

Não sei se alguém vai conseguir me encontrar por estas paragens, mas já que estamos aqui, vamos seguindo.

De anteontem pra cá, resolvi me desconectar por completo das famosas redes sociais do Marquinho Zucabergue. Depois de perceber melhor o quanto estas redes estimulam uma forma de narcisismo não muito saudável -- me vendo inclusive fazendo parte desse círculo narcísico -- resolvi dar um tempo delas, excluindo em definitivo as minhas contas por lá e optando por ficar por aqui, com as minhas próprias coisas, meus livros e meus hábitos quotidianos. Sinceramente não sei se voltarei, mas se voltar pretendo fazê-lo usando-as de uma forma completamente diferente do que fazia até então.

Confesso que é um tanto estranho o misto de sensações que vêm me tomando de vez em quando, mas relatá-las por aqui talvez seja uma forma de pensar com mais clareza a respeito do processo que aos poucos vai se colocando pra mim.

A primeira destas sensações, que veio logo depois da exclusão das duas contas, é uma sensação de conexão comigo mesmo que raras vezes eu senti na vida. Uma sensação incrível e quase indescritível.

Junto a ela, vem a percepção sobre o quanto estas redes nos consomem ao mesmo tempo em que nos fazem pensar que nós que as consumimos. O nível de consumo ao qual elas nos submete (tanto consumindo quanto sendo consumidos) é algo até estranho de se falar. Ficamos lá, com a linha do tempo aberto e o tempo todo pensando: "O que vou postar? Que horas vou postar pra que as pessoas venham e consumam aquilo que estou apresentando, seja isso um meme, um texto ou qualquer outra coisa? Como vou fazer para que as pessoas venham até a mim nestas situações? Como vou responder ao story da pessoa tal ou qual para assim chamar a atenção dela e iniciar uma conversa?"

Todas estas perguntas nos rondam o tempo inteiro, pensando, repensando e "re-repensando" sobre aquilo que estamos ali consumindo e sobre o que vamos apresentar para que os outros consumam ao nosso respeito.

Depois da exclusão, todas estas perguntas foram embora, e ficou simplesmente eu, eu mesmo e minhas nuanças aqui em casa fazendo minhas coisas.

A segunda sensação que me vem é um desejo intensificado de me conectar de forma mais genuína com as pessoas que estão ao meu redor.

Se formos pensar bem, estas redes, ao invés de nos conectar, na verdade nos desconectam, nos colocando em uma condição em que, por estarmos todos lá o tempo inteiro, deixamos de experimentar uma verdadeira conexão com as pessoas que estão por ali. Todas (ou quase todas) as conexões são superficiais, fracas, irreais. Curtimos, interagimos e compartilhamos conteúdos que ficam lá, por isso mesmo, sem que nisso as pessoas tenham uma oportunidade de conhecer o outro de uma maneira mais profunda, de uma maneira mais humana. Somos todos avatares lá, com poucas possibilidades de aprofundamento e, quando alguém tenta se propor a discutir as coisas de uma forma mais profunda e séria, temos então a desqualificação por causa do textão.

E ficamos lá o tempo todo nessa paranoia: "será que o que estou postando vai ser lido pelas pessoas que estão me acompanhando aqui? E... se sim, será se elas vão apreciar o que estou apresentando? Ou só vão pegar e rolar a linha do tempo como se nada tivesse acontecido?". Essas paranoias, ao menos no meu caso, são e foram reais até então. E no fim das contas terminamos apenas nas superficialidades: uma foto nova que postamos, um meme que compartilhamos, e... tudo vira bosta, como diria a nossa querida Rita Lee.

Aqui não. Aqui eu só tenho uma caixa de texto para preencher e, quando ver que o texto tá do jeito que eu quero, eu publico. Sem me preocupar com curtidas, sem me preocupar com compartilhamentos... enfim, aqui é eu. Só eu e quem por ventura der um pulo por aqui pra dar uma olhada naquilo que estou escrevendo. E... sinceramente? Eu nem estou me importando sobre se alguém vai vir aqui pra ler as minhas palavras, ainda que eu vá ficar super feliz com cada um que vier aqui pra ler as minhas palavras e aquilo que elas têm a dizer ao mundo.

Sinto falta delas? Sem hipocrisias, sinto. Sinto falta de ter o ícone do aplicativo aqui na tela do meu celular pronto para eu abri-lo. Sinto falta de, em abrindo, rolar na linha do tempo até encontrar algo que me interesse e me aprofundar até o ponto de enjoar e voltar pra linha do tempo. Sinto falta de as principais notícias do dia chegarem até mim para que eu possa me manter informado do que tá rolando mundo afora. Sinto falta de bizuar os stories das pessoas e sinto falta sobretudo de compartilhar os memes de que tanto gosto e com os quais eu buscava alegrar um pouco o dia a dia daqueles e daquelas que me acompanhavam através daqueles perfis.

Ao mesmo tempo, porém, vou percebendo essas coisas que estou percebendo e vou relatando por aqui. Percebo o quanto podemos ser um pouco mais profundos quando optamos por uma conexão genuína com as pessoas e com a nossa própria pessoa. Percebo a própria sensação de liberdade que podemos sentir quando vemos que não estamos presos naquela interfacezinha em que ficamos rolando e bizuando a vida alheira. Percebo a vontade que dá de chegar e chamar um amigo ou mesmo uma paquera pra ir tomar uma cerveja e trocar uma ideia apreciando a companhia um do outro. Percebo até mesmo a vontade de me arrumar melhor pra poder fazer alguma coisa nestas companhias, agora que elas não estão ali o tempo inteiro vendo a minha imagem (e os meus memes) passando pela sua linha do tempo.

Percebo, também, o tédio de ficar sem saber o que fazer ao longo do sábado a tarde sem que o ícone azul com o f branco ou o ícone da camerazinha não estejam ali presentes para que eu possa abri-los. Percebo, no meio a esse tédio, a vontade de voltar a jogar os meus jogos que há alguns meses eu já não jogava e que fazem com que eu me sinta mais conectado comigo mesmo enquanto vou acompanhando e vivendo as histórias que estes jogos me contam enquanto eu interajo com eles. Percebo a vontade de ler alguma coisa pra passar o tempo mas ao mesmo tempo aprender algo novo ou me preparar melhor pra seleção de doutorado que estou pleiteando. E percebo, enfim, a vontade de me expressar e, não tendo mais aquelas alternativas para escrever textos que provavelmente ninguém vai se interessar em ler, eu resolvo mandar aquele "oi sumido" pro meu blog e começar a escrever por aqui.

Alguém vai ler o que estou escrevendo? Sinceramente não sei. Mas... sinceramente? Eu não tô é nem aí! Se alguém quiser ler, ótimo, ficarei muito feliz. Mas se ninguém ler, eu também não vou ver nem um pouco da minha vida ou da minha autoestima afetadas por causa disso.

Esse era um privilégio que eu não tinha naquele aplicativo de interface azul cheio de pessoas competindo pela nossa atenção e pela atenção das outras pessoas que estavam ao seu redor, ainda que não percebam o círculo narcísico em que estavam/estão inseridas.

Um comentário:

  1. Oi boa noite. Tudo bem? Sou brasileiro e carioca do Rio de Janeiro. Quero apresentar o meu Blogger de cultura, viagens e turismo. Gostaria de lhe convidar a seguir o meu Blogger. Sou o seguidor número 2.

    https://viagenspelobrasilerio.blogspot.com/2020/11/inhotim-brumadinho-mg.html?m=0

    ResponderExcluir

Novos caminhos, novos sabores, novas perspectivas

Terceiro dia desconectado, mas já sentindo algumas coisas novas por aqui. A parte mais notável é o quanto estou apreciando a vida a partir d...